Guto Ferreira quebra o silêncio, fala sobre preconceito e contesta rótulos
Guto Ferreira procura mais do que apenas um novo time após deixar o Remo, mesmo tendo conquistado o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. A conquista, alcançada pela quinta vez na carreira, reforçou um rótulo que ele rejeita o de treinador de uma única divisão. Na prática, ele busca um projeto e uma chance para demonstrar que é capaz de treinar novamente um clube de elite.
Guto Ferreira- Reprodução/RBATV
Cinco clubes distintos têm acesso à Série A, além de quatro títulos estaduais e dois regionais o trabalho mais duradouro entre os 20 clubes que treinou ao longo da carreira teve duração de 17 meses. Guto deseja mais apoio, termo que utilizou para justificar sua saída do Remo após recolocar a equipe na elite do futebol brasileiro depois de 32 anos.
– Não é nem valores, mas é a busca por respaldo. E o futebol vai ensinando que, quando você reinicia um projeto – e é reinício para a Série A -, muita coisa muda e, no início do ano, você está sujeito a mudanças bastante importantes. E esse processo demanda tempo. Pode ser que acerte como a gente acertou de cara, mas isso necessariamente não é a verdade. Vai demandar todo um trabalho, um processo, para se chegar de novo a um patamar de sustentação que o torcedor almeja, que a gente almeja enquanto trabalha.
– Não estou no oposto. Eu também quero esse perfil de trabalho, porque, caso contrário, começam a colocar plaquinha no meu pé e me intitular como “rei do acesso”, “o Guto é treinador de Série B.” É só puxar meu currículo com clubes de Série A para ver meus resultados. E com um detalhe: muitas vezes, resultados com um elenco cujo nível de investimento era 20, 30 vezes menor do que o dos clubes de tabela média.
Guto Ferreira, Crédito: Samara Miranda/Remo
Além de Guto, Augusto Sérgio Ferreira começou a ser conhecido como “Gordiola”. O bom futebol exibido sob sua liderança na Ponte Preta em 2012 gerou comparações com o estilo de jogo do espanhol Pep Guardiola. No entanto, a alcunha veio acompanhada de preconceito por ser um homem obeso, embora o treinador tenha minimizado isso.
Guto Ferreira (Thiago Gomes / O Liberal)
– Eu acho que, primeiro, não tenho nada a ver com o Guardiola. Já me perguntaram e eu disse: o que deve ser parecido é o branco do olho. Mas sempre falei: só ficaria chateado se usassem o apelido de forma pejorativa. E, graças a Deus, isso nunca aconteceu. Sempre foi carinhoso, até valorizando. O apelido me humanizou. Até 2013 ou 2014, se você me visse na beira do campo, acharia que eu era um monstro. As caretas, a agitação. Passava a imagem de um cara bronco, rude. Depois que as pessoas me conheciam, viam que eu não era nada disso. Era o momento, a vivência da partida, a tensão. O “Gordiola” humanizou isso. Então, não tenho nada a reclamar; ao contrário, só agradecer.
– Ninguém pode negar que eu sou gordo. Está aqui [aponta para a barriga]. Agora, como esse “gordo” é interpretado? Para alguns, de forma não pejorativa, carinhosa. O “gordo” comparado ao treinador de sucesso. Embora, como disse, não tenha nada a ver com ele em estilo de jogo ou trabalho. Mas tem algumas coisas dentro do trabalho, alguns trabalhos que impulsionam, valorizam essa aproximação dos nomes, o surgimento desse apelido.